dança Educação Somática

Balé e Educação Somática – Um encontro essencial no século XXI

Tempo de leitura estimado | 5 min.

 

A experiência com o balé clássico carrega o peso da forma em uma técnica secular que possibilita o desenvolvimento do ser humano, mas que muitas vezes não ultrapassa os limites das posições do corpo no espaço. A conexão entre Balé e Educação Somática – Um encontro essencial no século XXI, propõe que não morramos na praia ao buscarmos a técnica, de certo esse encontro que poderia ser esporádico até então, agora é elemento chave para quem quer ter uma vida longa na dança.

Será que é possível ainda hoje colocarmos separadas as duas abordagens?

Antes de tudo, é importante destrincharmos alguns elementos importantes que nos ajudam a entender o porquê de não separarmos essa dupla.

O Balé nasceu nas cortes italianas e ganhou fôlego sob os desejos do rei Luís XIV na França entre os séculos XV e XVI. O interesse do Rei Sol foi tamanho que fez com que o desenvolvimento de escolas de balé fosse fomentado e se começasse a pensar em práticas organizadas de formação.

Bom, acredito que ainda não é possível nesse momento da história falarmos em pedagogia da dança, mas continuemos compreendo as limitações do período.

Até aqui o foco era uma dança que privilegiava o corpo a serviço da técnica

Poderíamos até nos desculpar a partir dos valores dessa época se esquecêssemos que Jean-Georges Noverre já propunha um olhar muito mais humano, subjetivo e interessado em uma dança que se distanciasse da forma e que pudesse preencher os pliés e tendus com subjetividades.

Bom, onde entra a Educação Somática nessa história?

Séculos mais tarde, o termo Educação Somática (ES) ganha visibilidade com as proposições do filósofo Thomas Hanna em meados dos anos 70 ao observar que diferentes práticas corporais propunham um processo em primeira pessoa, ou seja, uma experiência pelo movimento que privilegiasse seu entendimento a partir das particularidades e da possibilidade do corpo se auto regular.

 

pegadas na areia

 

Um trabalho escrito pela professora Neila Cristina Baldi da Universidade Federal de Santa Maria propõe o termo Balé Somático como o encontro de diferentes abordagens da ES, descobrindo e aplicando em uma linguagem clássica, as contemporaneidades que se alinham ao bem-estar, às descobertas íntimas do movimento e ao auto cuidado.

O texto parte da aplicação de duas perspectivas importantes da Educação Somática: o sistema Laban/Bartenieff e a Coordenação Motora de Piret & Béziers.

O Balé Somático do qual fala Baldi, mesmo propondo um método que aplica duas abordagens definidas, não parece se limitar a elas quando registra o interesse em uma prática de aprendizado e expressão em dança que convida as individualidades e intimidades serem vividas ao se colocar a mão na barra e fora dela.

O entendimento desse encontro como algo essencial não se restringe aos aspectos motores da expressão, ao contrário, relembra uma das proposições de Piret & Béziers ao conectarem o psiquismo e a motricidade:

“[…] compreender o movimento como um todo organizado, capaz de situar-se paralelamente ao psiquismo, com ele e perante ele. Então um poderá ser estudado em função do outro.”

(Béziers, Piret, 1992. p.13)

Atualmente, não é difícil encontrarmos professores que aplicam em suas aulas de balé elementos da ES na preparação de seus alunos. Aqui no Brasil temos a presença marcante dos trabalhos de Klauss Vianna já rompendo as barreiras que impediam um battement de serem vividos com mais inteireza.

O fato é que mesmo sendo expressivas a presença de Balés Somáticos ainda é necessário que convidemos professores, de hoje e de ontem, a aplicarem os elementos presentes na ES em seus processos de ensino. Assim, permitindo que as sapatilhas não nos distanciem dos pés, que os collants não prendam a caixa toráxica e que os coques ainda permitam que o crânio flutue sobre a coluna.

#deixamover

 

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Referências:

Baldi, N. C. (2018). Por um balé somático: Laban e Béziers no aprenderensinar a técnica clássica. OuvirOUver, 14(2), 510-520. https://doi.org/10.14393/OUV23-v14n2a2018-18
BÉZIERS, Marie-Madeleine.PIRET, Suzzane. A coordenação motora: aspecto mecânico da organização
psicomotora do homem. 3ª Ed. São Paulo: Summus Editorial. 1992

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Sobre o autor

Maercio Maia

 

Bailarino e Educador do Movimento. Bacharel em Ciência & Tecnologia e graduando em Neurociência, ambos pela Universidade Federal do ABC.

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