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Não é incomum em aulas de corpo e movimento ouvirmos diferentes orientações sobre um exercício que brincam com a realidade física. Sentir o corpo crescer, enraizar a base e respirar na coluna são alguns exemplos de orientações que você já pode ter ouvido em uma aula.
Muitas vezes a representação na realidade física da imagem ou orientação utilizada tem muito mais o sentido do saber do que do fazer e é justamente aqui que residem grande parte de nossos ganhos com o aprendizado motor. Esses ganhos têm apresentado serem tão relevantes que ultrapassam as barreiras da sala de dança e conquistam outros espaços e públicos, entre eles, o de pacientes com dor crônica que descobrem no conhecimento e no movimento uma alternativa para suas dores.
Esse texto tem como base o artigo “Group pain neuroscience education and dance in institutionalized older adults with chronic pain: a case series study“, publicado em 2020 na Revista Fisioterapia Teoria e Prática. É o primeiro estudo a incorporar a dança como intervenção no tratamento da dor crônica associada a um programa educacional em neurociência da dor, uma intervenção com estudos publicados em larga escala.
A dor crônica
O público do estudo foi um grupo de idosos vinculados a um centro de cuidados profissional. Estima-se que cerca de 85% dos idosos institucionalizados (como são designados no estudo) sofram de dor crônica. Com diferentes patologias e históricos associados, a presença da dor crônica é comum estar acompanhada de distúrbios psiquiátricos como a depressão e a ansiedade e, ainda, se associa como uma das causas da redução de mobilidade e independência nesse público.
O Programa Educacional em Neurociência da Dor
Do inglês, Pain Neuroscience Education (PNE), o programa estabelece no conhecimento uma intervenção no tratamento da dor crônica. De maneira geral, os pacientes são expostos a encontros regulares que explicam o funcionamento do processamento da dor no corpo humano, seus aspectos neurobiológicos e funcionais. Ainda, estabelece uma reflexão acerca de tratamentos e contextualizam a abordagem da dor por profissionais da saúde. Esse tipo tipo de abordagem têm exibido resultados interessantes no que diz respeito a diminuição da percepção da dor e as comorbidades associadas.
O estudo
No contexto que iremos observar, um programa de PNE foi associado ao treino de dança como intervenção em um grupo de idosos que apresentavam dor crônica. O grupo foi acompanhado por oito semanas e avaliados pré e pós exposição no que diz respeito a percepção da dor, velocidade de marcha e sintomas depressivos. As aulas exploraram os aspectos neurobiológicos e neurofisiológicos da dor de forma lúdica e acessível e os encontros de dança equilibraram experiências pelo movimento realizadas em cadeiras e em pé (quando possível) com movimentos simples e com músicas populares ao grupo de idosos.
O medo pelo movimento como causa da imobilidade
Um dos desafios para quem tem redução de mobilidade acaba sendo muitas vezes o medo que se instaura com a possibilidade do movimento intensificar a experiência dolorosa. Uma vez reduzida a experiência motora se observa uma bola de neve em que novos focos de dor podem surgir pela ausência de mobilidade, uma vez que o próprio movimento está associado a analgesia.
Os resultados do estudo
Foram observadas pontuações que indicaram uma melhora individual em alguns dos participantes. Neles a percepção da dor e os escores dos fatores emocionais negativos diminuíram. Contudo, esse estudo apresentou uma defasagem na quantidade de participantes eleitos para a composição final e, sob os parâmetros estatísticos, não apresentou significância clínica.
Podemos jogar tudo fora com esses resultados?
Minha resposta é não. Outros estudos utilizando PNE apresentam resultados positivos e a replicação desse tipo de intervenção ainda deve ser realizada para que resultados possam compor uma decisão mais assertiva sobre o tema. Além disso, a intervenção clínica da dança ainda se apresenta como uma alternativa para a recuperação da mobilidade em idosos, corroborando para a recuperação muscular e cognitiva desse público.
Não nos interessa aqui subjugar o fazer pelo saber, mas reconhecer na experiência pelo movimento associada ao conhecimento uma forma de integração entre mente e corpo. Alocando a funcionalidade do movimento na forma como entendemos o corpo e não no que fazemos com ele.
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