Você está no topo de um grande penhasco, olha para o horizonte e se lança com asas longas que te levam até um outro ponto no espaço. A sensação de voar é acompanhada com a chamada da consciência para aquilo que se vive no sonho, você sabe que está dormindo e que não se transformou em um ser alado, não ainda.
Os sonhos lúcidos se caracterizam pela constatação consciente de que o que ocorre no imaginário tem morada no sono, você não controla o que vive na imagem, mas sabe que não é real.
Nesse post analisaremos um fenômeno descrito na antiguidade que revela perspectivas sobre nossa relação com a consciência humana. Para nós, artistas do movimento, mergulhar nos sonhos lúcidos nos fazem experimentar a imagética de uma outra forma. Estamos interessados aqui em buscar estados de liberdade com possíveis explicações dadas pela neurociência.
Vamos lá, sonhando acordado
Já é possível observar na história antiga a citação do tema por Aristóteles, em suas palavras: “Frequentemente quando alguém pega no sono, existe algo na consciência que declara que o que se apresenta é apenas um sonho ” (Aristóteles, 1941, p. 624. Parva Naturalli).
Outros relatos incluem o fenômeno em práticas meditativas na Ásia, mas é a partir do século XX que o termo ganha detalhamento a partir das proposições do psiquiatra alemão Frederik Van Eeden. Sua definição para o termo diz:
“A reintegração das funções psíquicas é tão completa que o sonhador lembra sua vida e sua própria condição, alcançando um estado de perfeita consciência, e é ainda capaz de direcionar sua atenção, atentando a diferentes atos de liberdade e vontade” (1913).
Os estudos científicos sobre os sonhos lúcidos ganharam corpo com o desenvolvimento de técnicas de aferição neurofisiológica, como os estudos de neuroimagem, eletrofisiologia e neuropsicofarmacologia. Essas abordagens apresentam possibilidades de assegurar quando alguém, de fato, está dormindo e as possíveis interações com a saúde e bem estar do indivíduo a partir dos sonhos lúcidos.
Poder observar de forma mais controlada esse fenômeno, possibilita à sociedade científica de adotá-los sob uma metodologia experimental que observa correlações psicofisiológicas em seres humanos, dando pistas de como esse fenômeno acontece no sistema nervoso e suas possíveis aplicações na clínica e/ou na vida diária.
Neurociência e consciência
A consciência é geralmente associada a experiência subjetiva de um indivíduo sobre algo, ela descreve de forma qualitativa um processo perceptivo e faz com que não apenas estejamos vivos, mas saibamos que estamos vivos.
No que diz respeito aos sonhos lúcidos, a neurociência da consciência se ocupa em investigar os correlatos psicofisiológicos do fenômeno durante o sono inserindo tarefas enquanto os estágios do sono se desenvolvem.
Nessa observação dos estágios do sono foi possível observar em uma tarefa motora durante sonhos lúcidos a resposta do córtex sensóriomotor e de áreas motoras, em especial a área motora suplementar, responsável por aspectos de monitoramento, timing e preparação dos movimentos. O que se observou é que existe um padrão de funcionamento diferente quando a tarefa era executada durante os sonhos lúcidos de quando o indivíduo estava acordado. Isso propõe que a ativação da área motora suplementar é sobreposta pelo córtex sensóriomotor quando a tarefa é executada com o indivíduo acordado.
Uso clínico
O uso clínico dos sonhos lúcidos tem sido avaliado. Por um lado é defendido e indicado por pesquisadores e, por outro, advertido e recomendado a ser usado com cautela. A intervenção a partir do fenômeno propõe mecanismos favoráveis ao tratamento de transtornos psiquiátricos e do sono, com resultados necessários de serem replicados em maior escala e com controle adequado.
Os sonhos lúcidos e o movimento
Experiências subjetivas a partir do movimento nos aproximam da busca por estados corporais e motores que contribuam para uma resposta ou um desempenho específico e, ainda mais importante, para uma experiência estética e cênica.
O que se observa nessa dança entre consciência e inconsciência é um mecanismo capaz de ajustar suas intensidades de tal forma que o indivíduo que se propõe à prática possa dialogar com pedidos e respostas que não imaginou previamente, mas que surgiram e são, se assim o desejar, trazidas à frente dos olhos do saber – a consciência.
Estamos interessados em uma dança que colhe na experiência (ou técnica) do passado sua morada, mas que não se encerra nela própria. Uma dança que surge de uma surpresa ou de uma realidade outra que, quando for percebida, já existiu no espaço e no mundo.
No presente consciente tudo é novo, de novo, e de novo…
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