Afinal, existem evidências para a defesa de que os benefícios do Yoga são superiores a outros exercícios como correr ou andar de bike?
Neste post iremos observar uma revisão a respeito da comparação dos benefícios observados com a prática do Yoga em relação a outros exercícios físicos. Em especial iremos olhar os impactos sobre a regulação e equilíbrio do sistema nervoso.
O trabalho é uma revisão intitulada “The health benefits of Yoga and exercise” publicado em 2010 no jornal de medicina alternativa e complementar. Ela traz um panorama bem delineado sobre os benefícios relatados pelas práticas, com correspondentes cognitivos e fisiológicos. É uma das revisões mais atuais sobre o recorte, embora existam outras mais recentes sobre o uso do Yoga na clínica. Em particular, esse trabalho se ocupou pela observação do Yoga versus exercícios aeróbicos de baixa intensidade.
Yoga, um universo inteiro
Yoga é uma prática milenar interessada no equilíbrio sistêmico do indivíduo observando suas nuances corporais, mentais, emocionais e espirituais. Possui múltiplos aspectos relevantes à sua experiência: yama (ética universal), niyama (ética individual), asana (posturas físicas), pranayama (controle respiratório), pratyahara (controle dos sentidos), dharana (concentração), dyana (meditação) e samadhi (felicidade [1]).
Uma crescente de estudos em neurofisiologia clínica elencaram o Yoga como proposta de intervenção para diferentes patologias e condições como a depressão, ansiedade, esquizofrenia, obesidade, etc.
Grande parte desses estudos acreditam que certas práticas do yoga melhoram o bem estar físico e mental através da regulação do eixo hipotálamo-adrenal (HPA) e o sistema nervoso simpático (SNS).
Antes de prosseguir, alguns conceitos importantes.
O eixo HPA compõe um sistema neuroendócrino que controla respostas ao estresse e regula outros importantes processos no corpo humano, como a digestão, a resposta imune, humor, alocação de energia e sexualidade.
Já o SNS se trata de uma parte da divisão do sistema nervoso autônomo e é responsável por respostas estimulatórias no indivíduo, atuando no mecanismo de luta ou fuga. Ele é responsável por fazer o seu coração acelerar e sua “adrenalina ir a mil” se tiver que fugir de um carro desgovernado, por exemplo.
Tanto o eixo HPA quanto o SNS são ativados como resposta a estímulos físicos ou psicológicos externos, os chamados estressores. Daí, uma série de cascatas neuroquímicas são ativadas, primariamente como resultado da liberação de cortisol e outros neurotransmissores, levando a uma situação de hipervigilância. Com o passar do tempo, o estado de hipervigilância disparado pela desregulação do eixo HPA e do SNS pode levar ao acometimento de doenças como obesidade, ansiedade, depressão, doenças cardiovasculares e até ao uso de drogas de abuso.

O Estudo
Esse trabalho se orientou em observar trabalhos que traziam a comparação da prática do Yoga com outros exercícios de baixa intensidade, como caminhada, dança e bike. Importante frisar que diferentes abordagens do yoga foram implementadas, umas mais ligadas à fisicalidade, outras à espiritualidade. Como corte para a revisão, os estudos selecionados utilizaram as asanas como intervenção ao grupo experimental.
O interessante em observar é que algumas pesquisas defendem que a prática do Yoga age regulando a resposta ao estresse pelo eixo HPA e pelo SNS. Alguns estudos apresentam observada redução do cortisol na saliva, glicose sanguínea, assim como a redução de adrenalina e noradrenalina na urina. Além disso, em grupos que a prática do yoga esteve presente, houve uma significante redução da pressão sanguínea.
A defesa é que a experiência de movimento e mindfulness proposta reverta os efeitos negativos do estresse via regulação das cascatas neuroquímicas e da regulação da morte celular.
A figura abaixo resume bem as cadeias provocadas pelo estresse que estamos interessados em observar:

Como o Yoga poderia estar agindo?
Uma das propostas é que a prática do yoga modifica a resposta ao estresse realizando uma transição na ação do sistema nervoso simpático para o sistema nervoso parassimpático. Exibindo uma ação oposta ao primeiro.
Embora os mecanismos para que isso ocorra não estejam bem delineados, a sugestão é que essa transição seja via estimulação direta pelo sistema parassimpático.
Os resultados observados
A prática do Yoga esteve presente em grupos com redução da glicose sanguínea em pacientes diabéticos, redução dos níveis de colesterol, alívio dos acometimentos da depressão e ansiedade, além de pacientes com transtorno obsessivo compulsivo e esquizofrenia com intervenção da prática e bons resultados nos efeitos cognitivos adversos. Embora resultados semelhantes tenham sido encontrados com os grupos sujeitos a outros exercícios físicos, o Yoga pareceu ser em alguns casos mais eficiente que as outras práticas.
Importante frisar que os estudos escolhidos continham grupos experimentais com pessoas saudáveis e com patologias associadas. Além disso, foi relevante a observação que exercícios de alta intensidade apresentaram um aumento nos níveis de cortisol salivar, embora se observasse diminuição da pontuação na percepção de estresse pelos participantes.
Isso indica que tanto a prática de yoga quanto outros exercícios agem na regulação do eixo HPA e do SNS, porém, de formas distintas.
O ponto que chegamos é que, sim, a revisão propõe uma ação do Yoga, em alguns casos, superior aos exercícios físicos aeróbicos. Contudo, algumas variáveis ainda carecem de serem controladas e repetidas em novos estudos clínicos com mais participantes envolvidos. Essas variáveis incluem a metodologia utilizada em cada intervenção, isto é, a abordagem do Yoga escolhida sem variações de método (e isso é bem complicado de controlar). Uma das discussões é que novos estudos que relacionem o Yoga com outros tipos de exercícios com vigor performático próximo e abordagens semelhantes possam trazer resultados próximos, porém, essa revisão não foi capaz de olhar para esses estudos.
Assim, responder a pergunta de que os benefícios do Yoga serem superiores a outros exercícios não é, ainda, detalhadamente e de forma direta respondida.
O que se espera para os próximos anos é que cada vez mais se possam controlar as variáveis de estudo desse universo. Assim, vislumbrando o uso do Yoga na prática clínica em larga escala. Além do mais, centenas de outros estudos observam o uso do Yoga no envelhecimento, tratamento de doenças cognitivas e como elemento relevante no que se entende hoje por saúde integrativa.
Como ficamos então?
Por hora, fiquemos também com a alimentação da prática que propõe o autoconhecimento e valorização da auto percepção. Levando também ao praticante a decisão pela adoção desta ou daquela abordagem.
#deixamover
[1] do termo em inglês, bliss.________________________________________
Referências:
Ross, A., & Thomas, S. (2010). The Health Benefits of Yoga and Exercise: A Review of Comparison Studies. The Journal of Alternative and Complementary Medicine, 16(1), 3–12. doi:10.1089/acm.2009.0044
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