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Identificar e expressar emoções são essenciais em nossa história enquanto seres vivos e se tornam ainda mais importantes para os artistas. Afinal, um processo de aprendizagem de uma técnica e uma linguagem é regado pelas emoções de quem experimenta a cena e quem experimenta a plateia. Mas o que podemos falar sobre as emoções em termos de seus correlatos neurais? Onde elas estão no cérebro? Existiria um homúnculo emocional, um corpo das emoções?
O estudo que iremos observar hoje traz uma importante evidência da participação do córtex somatosensorial no processamento de emoções. Essa evidência faz com que seja incluído no sistema nervoso uma espécie de homúnculo emocional, para além daqueles que já conhecemos.
O trabalho em questão se intitula “The emotional homunculus: ERP evidence for indepent somatosensory responses during facial emotional processing” e foi publicado no The Journal of Neuroscience em 2014.
O homúnculo
A palavra se remete a um conceito utilizado em diferentes áreas do conhecimento e no sistema nervoso se trata da representação do corpo humano em áreas do cérebro, em especial áreas sensitivas e motoras, o homúnculo sensorial e o homúnculo motor, respectivamente.
Aqui se registra uma das importâncias desse trabalho: o fato de que ele traz uma representação, ou ainda, uma corporificação do processamento das emoções em áreas do córtex. Esse processamento, a princípio, é tratado pela neurociência como sendo realizado por áreas do sistema límbico.
O corpo e as sensações são essenciais para que a emoção exista
As respostas no cérebro em regiões que processam sensações e movimentos surgem quando somos expostos a estímulos de reconhecimento de emoções, por exemplo, observar faces de felicidade, tristeza ou medo. Esses resultados indicam um certo efeito de embodiment para que a simulação da emoção seja possível. Em outras palavras, reconhecer emoções passa pela representação daquilo que é observado em termos de corpo e movimento.
Contudo, até então as áreas do sistema somatosensorial não haviam sido demonstradas para esse tipo de processamento.
O estudo
Os participantes do estudo foram submetidos a uma tarefa de reconhecimento de intensidade de emoções enquanto eram monitorados por eletrocencefalografia. Além disso, estímulos táteis na mão e no rosto eram utilizados para investigar a independência e envolvimento do córtex somatosensorial no processamento das emoções.
O córtex somatosensorial
Essa região do córtex cerebral se associa ao processamento de sensações mecânicas, térmicas, de dor e propriocepção. Intimamente ligada a motricidade e a preservação da vida. Até aqui não haviam evidências da adição do córtex somatosensorial com o processamento emocional da forma como estudo propõe.
Os resultados do estudo
Os dados apresentaram evidências de que a discriminação de emoções pelos indivíduos exibiram uma atividade do córtex somatosensorial. Isso contribui para a ideia de que a simulação emocional que ocorre quando observamos o outro não é puramente conceitual, mas involve uma representação do corpo que guarda a emoção observada.
Nosso corpo guarda o que entendemos por emoção
Alguns textos já publicados aqui no site corroboram para a afirmação de que para que algo exista no outro é necessário que isso exista em mim, em termos de corpo e movimento.
Os desdobramentos do estudo colocam a relevância de nossas experiências sensoriais e de movimento para a as relações com o mundo, com o outro. O que até então se apresenta como uma perspectiva meramente filosófica ou artística estabelece traços cada vez mais próximos com nossas raízes biológicas.
Mais do que a representação cortical, ou o homúnculo emocional, o trabalho reúne informações pertinentes sobre as emoções no sentido de que parece ser necessária a existência desse corpo das emoções para que a emoção, em si, exista.
Nos resta ainda saber como tratamos isso na dança.
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